Confira, na íntegra, entrevista do presidente da Termotécnica, Albano Schmidt, à colunista de Economia do Grupo NSC, Estela Benetti
A Termotécnica, de Joinville, líder nacional em embalagens de EPS – plástico mais conhecido como isopor – é uma das indústrias que seguem à risca aquele conselho dado a empresas de ponta de que é preciso inovar em tudo. A última inovação lançada pela empresa é a Safe Pack, embalagem com nanotecnologia que mata 99% ou mais de vírus e bactérias. Foi desenvolvida em parceria com a startup de Florianópolis TNS, informa o presidente da companhia, Albano Schmidt.
Entre as novidades estão, também embalagens conservadoras, que ajudam a conservar melhor as frutas e pesar menos no frete, e soluções de internet das coisas (IoT), que permitem rastreamento de qualquer lugar. Nesta entrevista, Albano fala ainda sobre, inflação no setor, o lado bom do plástico e logística reversa. Confira:
O que representa para a Termotécnica a tecnologia Safe Pack para embalagens, que vocês acabam de lançar?
– Há bastante tempo a gente vem buscando novas aplicações para as nossas soluções em EPS, novos mercados, e principalmente como a gente poderia transformar nossas embalagens em alguma coisa mais ativa. Nós iniciamos essas ações alguns anos atrás com a rastreabilidade, a internet das coisas (IoT) e, agora, nós conseguimos agregar a nanotecnologia nessas embalagens, por meio de uma parceria com a startup de Florianópolis TNS. Com o uso desses compostos nanotecnológicos, temos embalagem antiviral e antibacteriana. Isso torna nossas embalagens muito mais seguras. A gente quer, agora, utilizar isso como transporte e condicionamento de medicamentos e vacinas, para a área hospitalar. Depois, queremos estender isso também para outras áreas, como delivery, mercado de varejo e o que mais os nossos clientes estiverem demandando.
Essa nanotecnologia mata tudo quanto é tipo de vírus e bactérias?
– No caso de vírus mata até 99% e, de bactérias, 99,9%. A gente testou com uma cepa da família do corona inclusive, e constatou-se que ela elimina 99% dos vírus. Não é exatamente o que causa Covid-19, mas é um vírus da mesma família, corona.
A Termotécnica, que tem quase seis décadas, deu uma virada para a inovação, o que não é comum no setor de embalagens. O que motivou isso?
– A necessidade motiva a gente inovar em embalagens. Estamos realmente procurando nos destacar no mercado, buscando novas aplicações nesse segmento, uma delas é o Safe Pack. Outra, também bastante demandada na área alimentícia, são as conservadoras, que aumentam o shelf-life (conservação) da fruta. Tivemos agora uma experiência muito bacana, com um grande exportador, um cliente nosso que fez um pedido para a Rússia. Para aquela região da Ásia, além de aumentar o sheif-life do produto, que no caso foi o limão, eles reduziram em mais de 6% o custo do frete. Então de fato a gente está procurando agregar valor aos nossos clientes com as nossas soluções, não só de proteção, mas também de condicionamento no transporte, para fazer com que sejam embalagens ativas.
O EPS viabiliza também proteção térmica. Esse é um diferencial de vocês para embalagens?
– Sim. Por isso estamos também trabalhando muito fortemente com todas as empresas de logística, de vacinas e tal, porque há uma necessidade de acondicionar esses produtos por 30, 40 e até 72 horas, variando a temperatura de 4°C a 8°C (graus centígrados). Se variar mais mata a vacina e se variar menos o bichinho também morre. Então, é muito sensível e a gente está conseguindo fazer isso.
A empresa já está oferecendo produto com internet das coisas (IoT)?
– Nós já temos soluções para isso, estamos ofertando para nossos clientes, porém não está sendo muito demandado. Mas a solução já temos, caso eles queiram ter a rastreabilidade, onde foi, e aonde é que está passando. Nós já temos sensores que, sem a pessoa precisar abrir a embalagem, ela já pode verificar como é que foi o comportamento do produto dentro da embalagem ao longo do transporte. A gente chama isso de embalagem inteligente.
Vocês têm uma fábrica em Petrolina, estado de Pernambuco, específica para frutas do Nordeste. Para que frutas são feitas embalagens?
– No Nordeste nós temos uma grande produção de uva. A uva de mesa brasileira é produzida principalmente naquela região do Vale do São Francisco, em Petrolina. Então, nós iniciamos atividade na unidade de lá em 2010, focando no mercado de frutas, no caso a uva. E ao longo do tempo, nós desenvolvemos várias soluções para aquela região, que também é muito forte em Manga. Então, a gente percebeu que estávamos pegando uma expertise no condicionamento de frutas.
Aí pensamos que o Brasil é um grande produtor de mamão. Só que a produção brasileira de mamão fica no Espírito Santo, estamos falando a mais de mil quilômetros da nossa unidade. E o limão, onde é produzido? A produção está concentrada no Sudeste, enquanto que o melão está lá no Rio Grande do Norte. Então é muito difícil. A gente vai ter que, ao longo do tempo, nos estabelecer com unidades próximas desses centros produtores. E cada projeto desse, a gente tem que ter gente desenvolvendo competências na área específica daquela fruta. Porque cada uma tem uma forma diferente de colheita, é um tempo diferente, tem características de frio, de temperatura, de condicionamento, manejo. Cada uma delas é uma história diferente. Mas estamos aprendendo, e tendo bastante sucesso, como por exemplo na uva, no limão, e na Pitaya.
Aqui em Santa Catarina a grande produção é a de maçã. Fizemos alguns experimentos, só que a maçã pode ser acondicionada até seis meses dentro de uma câmara fria. Então, não traz grandes benefícios para a gente. Outra coisa: acho que por conta da Covid-19, o consumo de cítricos, que contem vitamina C, como o limão, está crescendo de uma maneira muito grande, e o Brasil está preparado para isso.
O que a empresa tem feito para a linha branca?
– A gente também está participando de uma premiação que a Associação Brasileira de Embalagens faz todo ano. Submetemos a ela uma solução que a gente desenvolveu na parte de aquecedores a gás, para uma grande empresa chamada Rinnai. Eles tinham toda uma solução de embalagem, com caixa de papelão. Nós conseguimos proteger aquele produto, deixá-lo menor e mais bonito. Eles ganharam na questão de conteinerização do caminhão e na visibilidade do produto. Fora que ela também entrou na área do e-commerce, então o cliente pode receber tranquilamente a mercadoria em sua casa, fazendo a compra pela internet.
Como foi o impacto da pandemia para a empresa? Afetou muito ou ajudou?
– Olha, tirando o pessoal do Netflix, essas coisas, todo mundo sofreu muito. Nós sofremos uma redução violenta no começo e tivemos que entrar naqueles programas de redução de jornada, de salário, adotar o home office. Tudo isso para continuar vivo e passar aquela fase. Mas agora, aparentemente, as coisas estão retomando um pouco, e então começamos a sentir outro reflexo; está faltando tudo. O dólar nunca esteve tão alto, todos os insumos plásticos dessa indústria petroquímica estão vinculados ao dólar, todos eles subiram, o mercado brasileiro está desabastecido, pois houve uma drástica redução no trânsito de navios entre importadores e exportadores.
Então vamos ter mais inflação?
– Eu não sei, não sou economista, mas que vai ter um aumento no custo de embalagens, materiais plásticos, vai. Só não sei se isso vai ser contrabalanceado com outras coisas cujos preços caem. Mas tem outras coisas também, como a lei do gás que está para ser aprovada, a qual reduzirá o custo do gás, as privatizações na Petrobras. Eu não sei, então é difícil dizer se vai ter inflação ou não.
O plástico, considerado um vilão ao meio ambiente, é solução durante a pandemia. Como o senhor avalia essa polêmica?
– Principalmente agora com a pandemia, a gente percebeu a importância dos materiais descartáveis. Uma coisa que eu sou contra é você proibir o uso de canudos plásticos, copos descartáveis. Se não fossem eles eu não sei como a gente conseguiria conter o alastramento dessa pandemia. Está sendo fundamental. O que a gente tem que incentivar é o descarte correto do material.
Fomos também muito afetados certa vez, por uma reportagem da National Geographic, que trazia na capa uma tartaruguinha com um canudo enfiado no nariz. Então, daqui a pouco, nós vamos ter tartaruguinha com máscara enfiada no nariz, porque o que tem de máscaras descartáveis jogadas erroneamente nas praias de Florianópolis é um absurdo.
Por isso a gente tem que proibir o uso da máscara descartável? Então a mídia tem um grande papel também, em nos ajudar a orientar as pessoas sobre o descarte correto dos materiais, como o descarte adequado, a separação, aquele negócio do lixo que não é lixo. Isso porque mais de 90% dos plásticos são recicláveis. Nós temos também um programa, que infelizmente a pandemia deu uma travada, que é o Isopor amigo. Vamos fazer um teste piloto em Joinville para orientar a população de uma região sobre as bandejinhas de isopor, que a maioria acha que não são recicláveis, mas elas são 100% reciclável.
Como está o trabalho de logística reversa da termotécnica?
– Fazemos no Brasil todo, mas agora focando mais na parte de eletroeletrônicos. Com esse projeto Isopor amigo, a gente quer ver se consegue encaminhar também para os recicláveis as bandejinhas, copos e pratinhos de EPS.